segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Dependência (por Jessica Toniatti da Silva)

André, Victor, Douglas e Douglas, por Máscaras Despidas 
Santo André / Jan 2014

Dependência

O estudo da história das atividades humanas na terra indicam que até que não foram dominados a agricultura e o fogo, sua vida nômade foi inevitável. Era necessário que fugisse-mos dos períodos de estiagem, do frio ou calor intenso. A espécie era completamente dependente de fatores externos adequados para um bom plantio, caça e pesca, pois as adversidades climáticas poderiam dizimá-la.
Outro fator que fazia com que o homem fosse dependente do nomadismo, era o uso das terras que, em algumas regiões, eram férteis durante os primeiros plantios, porém quando deixavam de ter os nutrientes necessários para um bom cultivo, passavam a ser inutilizadas, criando a necessidade de busca por outras terras.

O avanço tecnológico possibilitou ao homem dominar o mundo ao seu redor. Com o descobrimento de adubos, pode suplementar terras já inférteis. Com o domínio do fogo, pode preparar alimentos que não poderiam ser digeridos em sua forma crua. Isso sem contar as diversas formas de domínio da natureza, como o estudo da botânica e dos animais, que possibilitaram o transporte, comunicação e a criação de uma medicina, tão essenciais para o desenvolvimento humano.

De alguma forma, o homem deu um salto em relação a outros animais ou outros períodos de sua própria evolução. Desenvolveu uma sociedade e uma cultura, que se comunicam de forma interdependente. Aos poucos foi criando padrões mínimos para uma vida humana, os quais nos separam da selvageria instintiva dos outros animais. Fomos entrando em uma dinâmica menos natural, mais construída.

Em meio a estas construções, pudemos observar algumas interessantes, que facilitaram em altos níveis o tal do progresso. Em contrapartida, muitas dessas facilidades encontradas, acabaram gerando outros problemas complexos e ainda não solucionáveis. Para que o homem atravessasse a galáxia foram criadas naves espaciais e foguetes, no entanto, perdemos o fôlego para ir até a padaria da esquina pois estamos muito adaptados aos automóveis, criando termos como obesidade infantil ou espaço fitness. Enquanto estudamos diversas fórmulas matemáticas e desenvolvemos máquinas cada vez menores que realizam operações extremamente complexas, conhecemos cada vez menos nossos corpos e seu funcionamento de acordo com as leis da natureza, dependendo de um especialista e ou alguma substância a cada vez que as coisas saem do eixo, sem sequer saber o que isso ou aquilo significa.

Com todas as tecnologias e facilidades que cria, a humanidade se afasta de si, do seu semelhante e de sua própria existência. Esquece de prestar atenção ao que sente e prefere escutar o que os meios midiáticos e especialistas em fórmulas gerais e padronizadas têm a dizer. 

Se antes de dominar a tecnologia dependíamos do que a natureza nos oferecia para podermos traçar nossa sobrevivência, hoje a tecnologia nos domina, dependemos desta, de forma a definir nosso padrão e qualidade de vida. 

Naturalmente o homem é um ser de progresso e vamos, a passos de formiguinhas, conquistando nosso espaço, mas nos esquecemos que nossa espécie se manteve por muitos milhões de anos sem as comodidades e rituais que pensamos ser tão necessários hoje.

Tirar a roupa não somente para refrescar um pouco, mas por um ato de coragem, rebeldia e retorno à ligação com outros seres naturais, com nossos antepassados. Liberte-se do que te prende, seja lá o que for!

E outro dia discorro mais acerca da padronização dos corpos e das vidas: as fôrmas nas quais a gente se faz caber para atender uma demanda que a gente nem sabe de onde vem. Mas aí já é outra história...

Texto por Jessica Toniatti da Silva (Blog da autora)

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Para participar do projeto e contar sua história com o próprio corpo, envie um e-mail para mascarasdespidas@gmail.com.

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